Caminhos jornalísticos: a construção da carreira profissional durante a graduação

  • Postado em 4 de novembro de 2025

A atuação do jornalista no mercado de trabalho abrange diversas funções e áreas. Entretanto, apesar da pluralidade de possibilidades, os desafios para construir uma carreira sólida também são significativos. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre 2013 e 2021, o número de empregos com carteira assinada no jornalismo caiu 21,3%, evidenciando dificuldades enfrentadas pelos profissionais após a formação, como salários baixos, concorrência intensa e desvalorização da profissão.

Diante desse cenário, a elaboração de um plano de carreira torna-se um desafio adicional para os estudantes de graduação. Como traçar um percurso no jornalismo atualmente? Qual área seguir? Onde encontrar oportunidades? Essas são dúvidas comuns e pertinentes, mas a graduação representa o momento ideal para a experimentação e o primeiro passo na construção de uma trajetória profissional.

Para Fernanda Alves, egressa da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e formada em 2020, o jornalismo esportivo sempre foi mais que um sonho: era uma promessa de infância. Durante a graduação, cada estágio em veículos locais, rádios e jornais serviu como degrau na construção de sua carreira. “Tudo que eu fiz me ajudou em momentos específicos da vida. Conhecer pessoas, fazer um bom trabalho e ajudar quando necessário fez toda a diferença”, afirma.

Segundo Fernanda, ainda na graduação, ela passou por quatro estágios em veículos jornalísticos da região do Cariri e em assessorias. Com foco no jornalismo esportivo, direcionou seus trabalhos desde a produção nas disciplinas até o TCC para essa área. Após a formação, atuou em 12 diferentes locais, sempre produzindo conteúdo jornalístico e, em muitos casos, cobrindo notícias esportivas.

Fernanda Alves no primeiro Clássico-Rei pela Verdinha

Já Naiara Carneiro, também egressa da UFCA, formada em 2014, seguiu um caminho distinto: apesar de durante a graduação se identificar mais com o impresso, acabou se consolidando na assessoria de comunicação. Para ela, cada experiência na universidade foi essencial. Participou do projeto universitário Mapeamento das Práticas Comunicacionais da Região Metropolitana do Cariri, estagiou na TV Verdes Mares Cariri e produziu conteúdos institucionais para a UFCA junto ao projeto do professor Anderson Sandes, construindo um portfólio valioso para concorrer a vagas profissionais.

“O importante da produção foi eu ter o que apresentar. O portfólio é uma amostra do seu potencial, do que você consegue fazer e de que forma você faz”, disse Naiara. Mesmo após cursar o mestrado em comunicação na Universidade Federal de Pernambuco, entre 2015 e 2017, o portfólio desenvolvido na graduação continuou sendo essencial. Em 2017, ao voltar para o mercado profissional, as primeiras oportunidades surgiram na assessoria de imprensa, área em que atua até hoje.

No âmbito acadêmico, a produção realizada durante a graduação também é determinante para a escolha do caminho profissional. João Alcântara, egresso e formado em 2014, conta que sua trajetória começou no projeto de extensão CEPEJOR, que possibilitou as primeiras viagens para congressos e a produção de artigos científicos. Além disso, a participação no GEMI (Grupo de Estudos em Gênero e Mídia), coordenado pelo professor Alexandre Nunes, e a monitoria da disciplina de Radiojornalismo, sob orientação da professora Rosane, lhe deram segurança para optar pela carreira acadêmica.

Segundo João, os desafios nesse percurso são inúmeros: envolveram distância da família, adaptação a novas rotinas e convivência em ambientes acadêmicos exigentes. “Ciência e pesquisa também são ‘lugares’ de difícil acesso: etapas complexas, mas necessárias. Uma linguagem pouco acessível, algumas vezes desnecessária”, explicou.

O egresso e professor, ressalta que a universidade é baseada em pesquisa, ensino, cultura e extensão e isso tem uma razão de ser, por isso orienta que os alunos se distanciem, sempre que possível, daquilo que lhes deixa confortáveis e seguros do que sabem. “Explorar os caminhos possíveis, passeando despretensiosamente por essas áreas, nos faz ampliar os horizontes da vida afetiva e intelectual, estando o afeto e a intelectualidade, na minha visão, sempre entrelaçados”, aconselha. 

Projetos universitários como abertura de caminhos

Os projetos universitários são, muitas vezes, o primeiro contato do estudante com a prática jornalística e, além disso, o início da construção de um portfólio e rede de contatos. Geralmente, é esta participação que abrirá o currículo profissional do recém-formado ainda com pouca experiência. Segundo Ligia Coeli, responsável pelo projeto universitário Vozes do Cariri, a participação expande e aproxima o contato com as tarefas cotidianas da profissão, tornando o contato mais intenso e possibilitando que levem ao mundo soluções e ideias já aplicadas nos projetos. 

Para a egressa Ana Tays Ferreira, formada em 2024 e ex-bolsista do Vozes do Cariri, o projeto foi o primeiro contato real com a rotina e os desafios de construir um programa jornalístico do zero, atribuindo a importância também a diversidade de funções que exerceu na produção, indo desde de cinegrafista à repórter. “Se eu pudesse resumir a importância do projeto na minha formação, diria que ele foi o meu pé direito, o primeiro passo para me tornar a profissional que sou hoje”, afirmou.

Equipe do Vozes do Cariri, em 2023

A egressa do curso ressalta também que após a participação no projeto conseguiu uma oportunidade de trabalhar no portal No Cariri Tem, junto a mais dois colegas que também integravam o Vozes do Cariri, exemplificando as possibilidades que surgem a partir da participação em um projeto universitário. 

Para Ligia o retorno do projeto é recebido com felicidade e também esperança de reinvenção. “Me alegro demais quando vejo que os/as estudantes ocupam espaços nas empresas da região, que aos poucos vão mudando o cenário jornalístico que temos, atualizando e reinventando práticas”, finaliza.

Reportagem: Ana Julya Carvalho Sampaio