De estudante a jornalista, egressos compartilham experiências na VIII Semana de Jornalismo do Cariri

  • Postado em 25 de outubro de 2024

Texto: Camila Lavine Foto: Aysha Saraiva

Na última palestra da VIII Semana de Jornalismo do Cariri, realizada na noite de quinta-feira, 25, no auditório Maria Beata de Araújo, na Universidade Federal do Cariri (UFCA), egressos do curso retornaram para partilhar suas vivências. A mesa foi mediada por Suyanne Matos, estudante do terceiro semestre, que guiou a conversa sobre o processo de construção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Durante a fala, os convidados revisitaram suas próprias trajetórias, discutindo conhecimentos adquiridos, desafios enfrentados e suas percepções sobre o papel do jornalista, além de refletirem sobre o compromisso com a profissão.

Além da roda de conversa com os egressos, a VIII Semana de Jornalismo do Cariri contou também com o lançamento da revista “Liberdades, Li Verdades”, conduzido pelos estudantes Pedro Miranda, Eduarda Galdino e Beatriz Vieira. A publicação, fruto da disciplina Oficina de Texto, sob a orientação da professora Rosane Nunes, narra histórias de pessoas que se alfabetizaram na vida adulta, destacando perfis de superação e resistência ao analfabetismo.

Embora a revista tenha sido lançada online, os alunos estão mobilizando recursos para transformá-la em edição impressa. Para obter mais informações e acessar a revista, basta visitar o Instagram @em_foque.

Os gritos que o mundo dá e o jornalismo precisa ouvir

Jornalista e militante da União Juventude e Rebelião (UJR), Bruna Santos atua como  assessora de imprensa e possui interesse pelo jornalismo ambiental. Seu TCC nasceu em uma consulta feita no Twitter, na qual ela acompanhou uma marcha de mulheres indígenas ocorrida no norte do Ceará. Uma das principais reivindicações das participantes era a não reativação de uma das maiores usinas do estado.

Diante do tema, Bruna produziu um radiodocumentário que explora questões ambientais e sociais relacionadas à exploração de urânio e fosfato na jazida de Itataia, localizada em Santa Quitéria-CE. Seu trabalho discutiu sobre o impacto desse tipo de mineração no desenvolvimento socioeconômico da região e nos impactos para os moradores locais. Além de marcar a conclusão do seu curso, a investigação de Bianca também fez com que ela fosse a vencedora da 14ª edição do prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, promovido pelo Instituto Vladimir Herzog. 

Durante sua fala, Bruna relembrou a importância de jornalistas enxergarem além das fontes, percebendo as necessidades das pessoas cujas vidas são impactadas por interesses milionários que ignoram a população e desconsideram suas reivindicações. “Uma coisa muito bonita que a gente pode fazer pelo jornalismo é não esquecer que não estamos a parte da sociedade, a gente faz parte dela, quando falamos de algum problema da classe trabalhadora, devemos nos inserir nisso, podemos colocar nossas emoções e contar da nossa perspectiva também”, destaca Bruna. 

É Preciso coragem para fazer jornalismo”

Breno Árleth é jornalista formado pela Universidade Federal do Cariri, com uma década de experiência em assessoria de comunicação e marketing. Seu TCC partiu de uma tradição pessoal que teve início ainda no começo de sua graduação: passar muito tempo no Mercado do Pirajá. Pelas ruas do mercado, Breno encontrou sua história e sua identidade como jornalista, assim como o tema do trabalho que concluiu sua graduação. 

Enquanto as grandes mídias locais reportavam o mercado acentuando problemas na infraestrutura e abordando questões superficiais, o jornalista em formação aprofundava sua visão em problemas políticos, na beleza da tradição ali existente e nas narrativas individuais sobre vidas que não eram escolhidas para serem notícia, mas que eram protagonistas nas crônicas escritas por Bruno durante sua formação. 

A identidade e carinho construído no mercado foi transformado em documentário, no decorrer da sua explanação, o jornalista falou das dificuldades enfrentadas na produção do material vivenciadas naquela época do curso, retomando a ideia de que o fazer jornalismo além de precisar de esforço, também precisa de carinho e identificação. “Para fazer jornalismo é preciso coragem, nossa profissão não é fácil… mas além de coragem é preciso gostar, você tem que fazer jornalismo porque gosta” afirmou Breno.

“Foque no que você gosta”

Jayne Machado é fotógrafa e agente cultural no projeto Pontal de Cultura, atuando também no marketing digital, onde desenvolve estratégias de posicionamento para profissionais e empresas. Em tom humorístico, a jornalista narrou sua trajetória na criação de um TCC focado na visibilidade bissexual por meio da fotografia.

Jayne refletiu sobre seu processo de identificação com as múltiplas possibilidades do curso, passando por textos, pesquisas, documentário e o apoio dos diversos docentes que marcaram sua graduação. Sua maior afinidade, no entanto, foi com a fotografia, uma paixão antiga que se consolidou ao perceber que seu TCC poderia ser, e de fato foi, uma exposição fotográfica contando narrativas profundas sobre a bissexualidade. 

Mais que um trabalho acadêmico, a obra de Jayne reflete a identificação e a fé no propósito de seu trabalho jornalístico – um compromisso de fazer porque acredita, e não apenas por obrigação. “Metam a cara em coisas que vocês acreditam, fiquem atentos aos sinais… foque no que você gosta, se você gosta de escrever, escreva… escutem os professores, e aproveitem os momentos”, aconselhou Jayne.

A voz dos excluídos e o olhar para os não vistos 

Bianca Sobral, mestranda em Comunicação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), e Bruno Nascimento, jornalista e historiador pela Universidade Regional do Cariri (URCA), exploram a religiosidade nas cidades cearenses com um olhar voltado para o município de Araripe, onde buscaram histórias sobre as visitas do missionário Frei Damião. No TCC conjunto, eles apresentam entrevistas com moradores de Araripe que conviveram com o Frei e preservam memórias de devoção e celebração, manifestadas através do louvor pelo santo popular.

Eles narraram desafios enfrentados em meio à pandemia, ressaltando mais uma vez, o papel do jornalista ao lidar com dificuldades do cotidiano. Tanto Bruno, quanto Bianca exploram a importância de acreditar naquilo que queriam produzir, acreditar na história e no potencial que aquelas vozes tinham em transmitir saberes e narrativas únicas. “Enquanto jornalista, temos o dever e a missão de dar vez e voz aos excluídos, aquilo que ainda precisa ser visto e aquilo que precisa ser ouvido, que não é uma tarefa fácil… a partir disso nosso trabalho funcionou como uma espécie de alquimia social”, afirmou Bruno.

“Nossas narrativas como jornalistas têm impacto”

Patrick Lacerda, jornalista formado em 2023, trabalha atualmente como repórter no veículo “No Cariri Tem” e é apresentador na “FM Padre Cícero”. O jornalista, finalista no Expocom com o livro-reportagem “E se a igreja fosse minha?”  explicou a ideia e as vivências que originaram o TCC e sua trajetória ao longo do curso. 

Desde criança, Patrick se encantou pela Igreja dos Franciscanos, mas também viveu a desilusão de perceber que as narrativas que admirava não haviam sido contadas considerando todos os envolvidos. Assim, no lugar de escrever sobre os nomes que estão marcados no teto da igreja, seu plano inicial, o jornalista construiu sua obra com histórias de pessoas que, embora tenham contribuído, com o trabalho e com pequenas doações, não receberam a mesma lembrança.  No seu livro, ele aponta para a existência de um céu de estrelas esquecidas.

A palestra “Memórias do Curso” trouxe de forma especial o olhar de jornalistas formados na casa, refletindo sobre como enxergavam o mundo quando ainda caminhavam pelos corredores como estudantes. Ao compartilhar seus medos e inseguranças, partes essenciais na construção de suas identidades como jornalistas, além dos anseios e ideais que transformaram histórias esquecidas em pautas de destaque, os jornalistas deixaram lições para o público. As vivências, que arrancaram gargalhadas e aplausos, demonstraram o que significa ser jornalista e deixaram uma reflexão, acerca de que tipo de jornalista cada um deseja se tornar.